quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Subiram duas pessoas do resgate no Kanaloa!

Tínhamos uma janela grande que daria para: saindo de Mossel Bay, Oceano Índico chegar a Cape Town, Oceano Atlântico.

Durante a travessia os ventos começaram a mudar e a janela a se fechar.
Assim, mudamos nossa rota para Simon's Town, cerca de 65 milhas antes.
Algumas milhas da cidade, observamos que o céu estava totalmente encoberto, e as ondas e ventos aumentando.

Ao cair da noite foi tudo piorando e o nosso medidor de vento não abaixava de 40 nós.

Começamos a ficar preocupados. Chegar num porto que não conhecemos, à noite, com tempo bom já é bem difícil. Imagine chegar com tempo ruim.

O veleiro surfava nas ondas que não eram muito altas, mas provocava uma trajetória mais ou menos sinuosa. Próximo a nós seguia um veleiro inglês e, assim passamos juntos a um farolete onde as ondas arrebentavam muito e tinha que ser deixado numa boa distância. Parecia uma regata: de olho no espaço até o farolete e no veleiro próximo.

Meu avô preferiu ficar no leme durante umas seis ou oito horas direto.

Logo vimos através de nosso AIS que o barco dos nossos amigos espanhóis já se encontrava na marina.

O inglês que estava atrás de nós havia feito contato com RESCUE (resgate) para o auxiliar na entrada da marina.

Chamamos nossos amigos espanhóis no rádio para nos auxiliarem na chegada e eles não responderam. Achamos que a coisa não deveria estar tão boa por lá porque em seguida, ainda via AIS, observamos que ele entrara e saíra da marina.  Posteriormente soubemos que foi por não conseguir manobrar na primeira tentativa porque o vento por lá chegava a 60 nós.

O vento já havia chegado aos 49.8 nós, para nós, e um quarto veleiro - um veleiro local - que estava nesse momento encerrando sua volta ao mundo chegou a ser levado umas duas milhas em direção as pedras, retornando somente quando o vento “sossegou” um pouco entre 33 e 36 nós.


O mar estava alto e ventava muito, todos nós estávamos nervosos com a proximidade de terra, com muito vento e como evitar um “strike” dentro da marina.

Eu perguntei, via rádio, se eles podiam nos dar auxilio, eles logo responderam que NÃO, e que eu deveria entrar em contato com o RESCUE no canal 71.

Num ato rápido, sem eu consultar o capitão, eu chamei o RESCUE e pedi auxilio para entrar na marina, já que eles estavam ajudando os outros 3 veleiros.

Via rádio, eles pegaram todos os dados do nosso barco, mas eu não conseguia entender 100%, devido ao barulho do vento; foi um pouco complicado.

Meu avô continuou no leme seguindo a rota como podia, pois, o barco chacoalhava muito.

Em um momento meu avô, no AIS, viu dois barcos muito próximos, com o nome Rescue. Pediu-me para confirmar visualmente. Por bombordo, quando coloquei a cabeça para fora, uma onda me lavou por inteira, eu fiquei muito nervosa, literalmente queria rir e chorar. Mas me segurei, afinal não queria ser mais uma preocupação.

Era uma lancha do RESCUE.  Quando olhei para o lado, duas pessoas estavam em cima do barco, daquele tipo que a gente só vê em filme, vestidos de vermelho com roupa de mergulho e capacetes; minha avó disse que eles pediram autorização para subir, e num pulo já estavam no convés.

Eles pediram para abrir toda a capota do barco, e já foram atrás das defensas e cabos - eles eram muito rápidos.

Como eram do local, logo começaram a indicar os lugares que deveríamos ir para entrar na marina.

Demos dois giros completos antes de entrar, para eles arrumarem tudo.

Meu avô no timão e eu e minha avó só observando. Não tinha o que fazer, eles faziam tudo. Era como ter dois práticos de cais a bordo, com o diferencial de estar ventando 50 nós.

Logo meu avô conseguiu entrar na marina, ficamos em parte aliviados, mas ainda tinha que seguir até o pequeno espaço do flutuante e amarrar o barco.

Quando olhamos para o flutuante havia dez pessoas prontas para pegar os cabos e ajudar no que fosse preciso. O Rescue já havia convocado o pessoal. Eram 5 velejadores estrangeiros e 5 locais – Eram 22:40 horas.

O veleiro foi “caranguejando”; isto é: seguindo numa direção, mas com a proa noutra, encaixando certinho na vaga.


Depois de uns quinze minutos para amarrar o barco: com dez pessoas no flutuante, dois homens do RESCUE, eu e meus avós e mais uma lancha com condutor e uma marinheira empurrando nosso barco contra o cais, conseguimos atracar.

Ficamos amarrados com dez cabos em diferentes posições e inúmeras defensas. Nosso barco não cabia por inteiro, o que fez os cabos fazerem baru fortes a noite toda.

Enfim chegamos!!!!

Fomos cumprimentar os rapazes do resgate que nos ajudaram, e na minha vez eu pedi uma foto (ver foto).

Estávamos ainda tensos, e sem acreditar que não havia acontecido nenhum arranhão. Realmente essas pessoas são verdadeiros anjos, pois em todos os momentos nos passaram calma, tranquilidade e segurança.

Aquecidos e satisfeitos, ligamos para a nossa família.

Minha mãe tinha me mandado diversas mensagens querendo meu “waypoint”. Demos risada, pois não tinha condição de nada naquelas horas que acabaram de se passar.

Eu tirei fotos e filmei pouco antes do mar estar um verdadeiro sufoco.

Minha iniciativa valeu 2 estrelinhas e meia, que meu avô arredondou para 3 estrelinhas. Dez estrelinhas dão direito à famosa torta de frango com palmito feita por minha avó.
Não foi bem um resgate, mas a assistência valeu e muito.



                                                 Nossos anjos, Josh e Dean!


                                             Por do sol com essa nuvem gigantesca!



                                               Essa nuvem foi escurecendo de uma tal maneira, que começamos a observar melhor ela por bombordo!


E aqui um video com alguns momentos da travessia.




 .

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Costa da África do Sul, ainda no Oceano Índico.

Chegamos em Richard's Bay. Não demorou muito e um barco vizinho nos chamou no rádio, dizendo que uma oficial da Imigração nos aguardava para emitir os vistos no restaurante ao lado da marina. Foram 10 veleiros que chegaram naquele dia.

Na nossa vez ela nos informa que teríamos apenas um mês de visto na África do Sul.
Ficamos indignados, um mês seria muito pouco tempo para percorrer a África do Sul. Uma das travessias, por exemplo, de 100 milhas, tivemos que esperar 13 dias para termos uma janela razoável.

Ainda chateados com a documentação da Imigração fomos fazer os papéis da Alfândega, e para ir até lá juntamos pessoas e pegamos um “taxi coletivo”.

No dia seguinte fomos ao escritório da Imigração, com o celular na mão, aberto no site da Imigração sul africana, para mostrar que tínhamos direito a três meses.

Sem demora, o chefe da repartição mandou a funcionária que estava no balcão arrumar. Pensamos que ela iria emitir outro visto e invalidar o atual, mas não, simplesmente pegou uma caneta e "consertou" a data.

Problema resolvido, fomos conhecer um pouco a cidade.

Na virada do ano nós receberíamos meus tios no Kanaloa, e tínhamos que estar em Durban para nos encontrarmos.

Então partimos para Durban, mas antes fizemos os papeis de novo, pois aqui a cada porto tem que fazer entrada e saída, é tudo gratuito mas leva tempo.

A viagem para Durban foi tranquila, e o pessoal da Marina super solícito e sorridente. Logo nos avisaram que os papeis seriam feitos por ali por perto, e que daria para caminharmos.

Nos preparamos e fomos caminhando, custamos a achar o lugar, e em algumas vezes pedíamos ajuda, e por três vezes nos mandaram para o lugar errado.

Quando encontramos o lugar, já estava fechado. E era uma sexta, onze e quarenta da manhã, ou seja, somente segunda resolveriam os papeis.

Aproveitamos o fim de semana para conhecer a cidade. Em Durban é importante não sairmos sozinhos, a criminalidade é bem alta; uma amiga nossa teve sua bolsa aberta, mas ela percebeu e o ladrão saiu em disparada na direção oposta.

Mas o que nos impressionou é como são bonitas as sul africanas, todas bem arrumadas e com penteados incríveis.

Passamos natal e ano novo a bordo, conhecemos vários lugares, entre eles a casa onde Gandhi morou aqui na África do Sul e a escola onde Mandela depositou seu primeiro voto.

Quando estávamos preparados para a próxima travessia, só nos restou aguardar. Dez dias de aguardo, e mais dois dias por nova mudança de tempo. Somente no décimo segundo dia conseguimos sair para East London.

Chegamos à noite, tendo velejado a travessia toda, exceto na chegada. Estávamos em um grupo grande, espontaneamente formado e assim que chegamos notamos que o espaço seria pequeno para abrigar a todos.

Ficamos alguns dias todos próximos (no final tem fotos), e o fundo não era nada bom, era uma lama preta mole (má tença). Não tivemos coragem de descer em terra e deixar o barco sozinho. Felizmente seriam exigidos somente os papéis de saída.

Passados alguns dias, começamos a economizar água, pois não tínhamos motor de popa para ir a pequena marina encher galões, tamanha a correnteza e os ventos contrários. 

Também nos disseram que a água de lá era bem suja, e a do Rio Buffalo era escura e suja, portanto, era impossível fazer água com o dessalinizador.

Com a água quase acabando, tivemos o aviso do nosso quarto tripulante Kanaloa em terra, dizendo que teríamos um tempo bom e poderíamos sair.

Fomos fazer os papéis, e foi super rápido.

Quando estava tudo pronto um oficial disse para o meu avô que lhe daria 50.000 Rands pelo meu dote! Como assim? Ele queria pagar mais ou menos 10,000 reais para casar comigo! Demos risadas e fomos embora, para o barco.

Chegamos em Port Elizabeth em segurança, e atracamos no flutuante da marina, que balançava bastante com o vento. Felizmente o vento era 35 nós no máximo.

Em quatro dias, saímos em direção a Mossel Bay, chegamos na madrugada, e uma hora depois de ancorados, nos acordaram pedindo que saíssemos e fossemos para o cais, lugar de onde nos tiraram novamente no dia seguinte.


Conhecemos a cidade, que era muito bonita e aconchegante. No dia seguinte tínhamos uma janela grande que daria para chegar até a Cidade do Cabo (Cape Town) - mas não foi isso o que aconteceu... 

               East Lindos - Rio Buffalo

                Está London - Rio Buffalo

               East London - Rio Buffalo


               Cais onde ficamos atracados em Mossel Bay

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Fomos roubados, perrengue! Em Moçambique!

Antes de partir de Madagascar já havíamos decidido que Moçambique seria um país de passagem, e que não faríamos entrada.

Vários sites confiáveis diziam que: além das taxas normais cobradas pelos órgãos reguladores, os próprios oficiais, ainda com a posse do seu passaporte cobram taxas extras e se não as pagar, não os devolvem.

Como os oficiais da África do Sul são cientes desses acontecimentos, eles são muito compreensivos, permitindo a entrada, ficando aguardando a emissão de um novo passaporte em sua embaixada.

Enfim: seguiríamos até Bazaruto – Moçambique, aguardaríamos o bom tempo e partiríamos para Inhaca e daí para África do Sul aproveitando a correnteza, num total de mil e cem milhas.

Em Bazaruto um dia após a nossa chegada, observamos redes de pesca em nossa volta, e com o mar soprando do mar para terra, mais a correnteza, tivemos certeza que a rede (enorme) iria nos pegar. Até porque o Catamaram que estava um pouco a frente, já estava envolvido pela tal rede.
Muitas pessoas na praia gritando e apenas um homem e uma criança, de no máximo dez anos, estavam em uma pequena canoa recolhendo a rede.

Quando a rede nos alcançou, pensamos até em cortá-la, mas logo percebemos que não seria uma boa ideia pois não sabíamos a reação do povo local com tal atitude. Não queríamos nenhum problema naquele país, ainda que a correnteza mais a maré vazante, mais o arrasto provocado pela rede fossem enormes sobre a âncora. Depois de algumas horas, problema resolvido.

Sempre vinham canoas pedindo dinheiro em troca de peixes. Nós não tínhamos dinheiro local - metical, e acabamos por oferecer camisetas, pensando que haveria escambo, assim como em Madagascar. Mas além de não nos oferecerem nada, até aí tudo bem, ainda acharam pouco e foram ríspidos conosco. E nós entendíamos tudo, já que em Moçambique se fala português.

Passados dois dias, o vento aumentou e as ondas subiram. Nessa noite havia muito barulho das ondas no costado, o vento e os cabos batendo no mastro. Quinze para as duas da manhã, meu avô que é muito atento aos sons do barco, ouviu um barulho diferente, mas não achou que seria algo muito importante. Mesmo assim ele foi para o cockpit e logo viu uma pessoa pegando os cabos que ficam na popa. Meu avô logo correu em sua direção, mas o pirata, da plataforma pulou para o bote, e assim que meu avô puxou o cabo que estava interligando o seu bote ao nosso barco, percebeu que já havia sido cortado com um facão, desaparecendo na escuridão, fugindo por entre os baixios que um veleiro não pode passar.

Com muitos xingamentos no momento, eu e minha avó acordamos, e logo percebemos que além dos cabos, ele havia estourado o cadeado do motor e tinha levado também, nosso motorzinho de 5 HP de apenas dois meses de uso.

Ficamos extremamente chateados, e todos os dias após, dormimos trancados e superatentos, pois não sabíamos se voltariam. O que nos deixou um pouco mais tranquilos, foi que nada de grave pessoalmente aconteceu.

Pensamos até em falar com as autoridades, mas logo desistimos da ideia, não queríamos ficar nem um minuto a mais naquele país, pois o que poderíamos esperar de um país com um AK47 na bandeira. É o único país no mundo que tem na bandeira uma arma de fogo.

Ainda chateados, partimos para Inhaca, depois de 8 dias aguardando bom tempo, onde encontramos mais dez barcos reunidos. Num deles, os americanos nos convidaram para uma ceia do Dia de Ação de Graças. Foi quando as tripulações de todos os veleiros ficaram reunidos. Também descobrimos que não fomos os únicos a ser roubados, outros dois haviam também recentemente passado pela experiência em Moçambique e também em Madagascar; de um deles levaram o motor de popa, e do outro por duas vezes invadiram o barco, e os ameaçaram com facas, levando tudo de valor.

Ficamos reunidos em Inhaca por longos 13 dias. Como não tínhamos motor, nem em terra podíamos descer pois, o vento era bem forte. Três argentinos de um dos veleiros sempre traziam ovos, frutas, verduras e legumes para nós. E em um dia nos levaram para terra, onde conseguimos por algum tempo um pouco de internet. Retribuímos os argentinos, com um lanche/jantar e um almoço.
Num desses dias de espera, o vento chegou a 49,9 nós, e ouvimos de outro barco que estava um pouco mais longe que o seu WIND (equipamento que mede a velocidade do vento e direção) chegou a 70 nós! Foi nesse dia que um barco perdeu seu bote para o vento, e foi levado mar afora (o mesmo que fora por duas vezes assaltado).

Fizemos um plano de viagem para África do Sul: sairíamos em direção a Richard’s Bay com a ajuda da correnteza e dos ventos, e quando estivéssemos a meio dia do porto de chegada, pararíamos, aguardando uma baixa passar a nossa proa. Isso na teoria, porque na prática não conseguimos parar -  sem velas o nosso barco estava andando a 5 nós por causa da correnteza, mas deu tudo certo, a baixa se desfez e chegamos em Richard’s Bay, África do Sul.



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Madagascar - Moçambique

Depois dos 32 dias da travessia sem escala do Oceano Índico chegamos em Madagascar e ancoramos em uma baía onde há uma pequena marina.

Em pouco tempo encontramos pessoas que falavam português. Eram nativos de Moçambique, do outro lado do Canal, já no continente africano.

Logo nos arranjaram um taxi, e partimos para fazer a papelada.

Desde que chegamos reparamos que o povo é muito simples e que muitos sobrevivem graças a minúsculo comércio – uma tábua em cima de dois caixotes e pequena quantidade de tomates, alho ou cebola para vender. Nas poucas ruas pavimentadas as “vendinhas” e barzinhos, de tábuas, com teto de ramos de palmeira são o que mais se encontram. No centro da cidade (“ville”), aqui, todos falam francês e malagasse, o comércio é mais forte com lojas em alvenaria, simples mas bem arrumadas.

No supermercado não encontramos muita variedade. Cartões de crédito não são aceitos, assim a caixa ATM é sempre o primeiro lugar a ser visitado. O mercado de hortifrutas sempre é muito bom em todos os lugares. A carne, aqui, é vendida no mercado...e também na rua de terra. É fácil de identificar a carne – estará sempre coberta de mosquitos. As ruas e o lixo há muito que não veem garis.

Ficamos três dias ancorados neste local para preparar o barco e completar combustível – o que não foi uma tarefa tão fácil. Em Nozy Be, onde estávamos não há posto marítimo, logo teríamos que fazer viagens com o bote até a marina com galões e da marina pegar um taxi até o posto onde regressaríamos para o barco.

No dia seguinte saímos pela manhã e fomos pernoitar em uma ilha ao sul. Muito bonita.
Ficamos encantados com o quanto os baobás são bonitos, grandes e imponentes. Alguns lêmures numa pequena ilha se alimentavam nas árvores.

Um nativo aproximando-se com sua pequena canoa tentou vender-nos algumas frutas. Respondemos que não tínhamos dinheiro (“pas d’argent”). Assim que ele estava partindo oferecemos uma camiseta, já que a dele estava muito rasgada.  Retornou, aceitou, e a seguir apanhou algumas frutas e entregou-as para nós dizendo é um presente (“cadeaux”).
Logo mais tarde apareceram outro nativo, esposa e criança... e mais outro e mais outro. Repetíamos sempre “padarjam” e ouvíamos sempre “cadô...cadô”.
Já estávamos preparados para escambo.

Nós oferecíamos camisetas, shorts, bonés e comida.

Dentre os presentes viam-se muitos limões, mangas deliciosas e muito duráveis, bananas, mamão, ovos de pata e até uma lagosta que ficou excelente.

Por último, no dia seguinte apareceu um casal e o ritual foi o mesmo. Já saindo, após as trocas, a esposa não deixou para depois, retirou sua camiseta, ficando nua da cintura para cima, colocou a nova, que acabara de ganhar, sorrindo sempre, mostrando sua boca faltando muitos dentes, numa cena tocante e divertida para nós e, para eles com certeza e se foram.

Foi incrível.

Pessoal super amistoso e que nos cativou. Nâo foi a primeira vez que fomos abordados. Depois de ver o quanto são simples naquela região, não custa ajudar, e acabamos sendo ajudados.

Passamos por várias baías nesses dias.

A estação de ciclones ainda não havia chegado mas nessa época sempre ocorre alguma depressão mais forte que chega até aqui e até mais próxima à fronteira da África do Sul. Assim, tínhamos que partir.

A próxima travessia seria de 700 milhas e necessitaria de uma boa janela de tempo.

Entre Madagascar e a África continental há o Canal de Moçambique que varia de 500 milhas à 200 milhas na sua parte mais estreita.

Próximo a parte mais estreita partimos para oeste, para o continente africano, de encontro a Corrente de Moçambique que segue para o sul acrescentando de 1 a 3 nós na velocidade do barco.

Quando temos internet utilizamos o PredictWind e o Windity.

Quando não temos, o que ocorre nas travessias, utilizamos o Sailmail, usando o Iridium como modem para baixar GRIBs. Também utilizamos o SSB para receber meteofax, boletins meteorológicos e para NETs.

Via Iridium também fazemos conversação via satélite ou MSG. A MSG é o meio mais comum de contato com nosso amigo Hugo, hoje na Nova Zelândia. Hugo, é uma pessoa que acompanha há anos a trajetória dos meus avós e os auxilia com previsões. Ele nos passa diariamente a previsão de tempo para os próximos dias buscando websites e modelos diferentes até comunicação de navios passando pela nossa área.

Temos três relógios iguais e juntos na antepara, marcando o fuso da Nova Zelândia um, a hora local e a hora do Brasil os outros dois. O da NZ toca o esperado alarme todos os dias às 18:20 horas, quando trocamos dados.

Enfim, barco totalmente reabastecido partimos para a ilha de Bazaruto, Moçambique. 


Mulheres de Madagascar





Nozy be



Comércio em Nozy Be



Eu e o baobá

Eu e minha avó, na frente de um baobá



Glória do filme "Madagascar" em Madagascar

Escambo com Nativos

Escambo com nativos

Fruto do escambo

Fruto do escambo



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

32 dias sem escala navegando no Oceano Índico

Estávamos muito ansiosos pelo que viria pela frente, principalmente eu - porque seria minha maior navegação.
Estávamos preparados para 36 dias em 3.710 milhas, sem parada, da Ásia até a África, saindo de Sunda Strait, Indonésia com chegada em Nosy Be em Madagascar.

Nossa viagem não começou aí. 

Fizéramos manutenção e pintura em Lumut-Malasia, de onde iniciamos nossa jornada em 03 de setembro. A intenção inicial era a de deixar a Ásia via norte da ilha de Sumatra. Amigos nossos, dias antes tentaram por esse caminho, mas encontraram correntes muito fortes e vento contra entre 35 e 45 nós impedindo-os de prosseguir. Tiveram que retornar para o estreito e aportar na Tailândia, onde foram muito bem recebidos pelas autoridades, apesar da documentação de saída ser com destino à Madagascar. Tentarão na próxima temporada.

Decidimos por isso seguir para o sul através do Estreito de Málaca. Passando pelo movimentadíssimo canal de Cingapura, sempre atentos com rádio, GPS, AIS e radar, fomos chamados via rádio pela polícia marítima, que logo nos liberou e pudemos prosseguir até a Indonésia onde fizemos uma parada estratégica na ilha Belitong - lugar encantador e paradisíaco com pessoas super solicitas.

Ficamos ali 5 dias esperando o melhor tempo para prosseguir até o estreito de Sunda, entre as grandes ilhas de Java e Sumatra, ainda na Indonésia.

No estreito fomos pernoitar em uma baia próxima a Ilha de Krakatoa, para daí fazer a grande travessia. O filme “Krakatoa, o Inferno de Java” conta a história da grande erupção vulcânica causadora de mais de 36 mil mortes. Com essa decisão acrescentamos 16 dias e 951 milhas até a África

Zarpamos em 19 de setembro.
Mar muito calmo e pouco vento. Cruzamos com alguns navios, e fizemos turnos para o dia todo, para ficar menos desgastante, pois teríamos mais 3700 milhas pela frente.

No terceiro dia o vento aumentou. Ficamos felizes, todos nós gostamos de ver o Kanaloa velejando.

No quarto dia à noite logo após meu turno, meia noite e pouco, ouvimos um barulho muito alto e metálico.

O avô constatou que dois estais de boreste estavam soltos e que logo pela manhã teríamos que começar os trabalhos.

Logo cedo o meu avô já estava no mastro - o mar estava grande. Com muita dificuldade e ajuda de todos, o capitão conseguiu solucionar o problema. No barco tem que estar preparado para tudo, por isso havia material para troca da peça que se rompeu.

Problema resolvido, aliviados, voltamos a velejar dentro do rumo.
Mas no sexto dia, aquele barulho novamente. Não acreditamos, o Kanaloa só tinha rompido aquela peça duas vezes, uma no oceano Pacífico em 2012 e há dois dias atrás.

De novo o meu avô subiu, desta vez uma rosca estava dando trabalho. 

Numa das subidas ele ficou uma hora e quarenta lá em cima. Mas felizmente conseguiu!

E lá vamos nós, a todo pano... Não!!! Aqui a prioridade é chegar com segurança e material em dia e não rápido, forçando material. Então colocamos a mestra no segundo riz (diminuindo a área vélica) e a traquete (uma vela de proa, menor que a genoa).

O mar aumentou depois deste dia e os ventos rondavam 15 a 20 nós com rajadas de até 30. O problema não é o vento forte, mas a direção das ondas que faziam o barco balançar e cabecear ficando muito desconfortável. Uma ou outra onda de vez em quando entrava no cockpit, apesar de todo fechado chegando a molhar a mesa de navegação.
O barco balançou bastante mas nos acostumamos rápido, que assistimos filme quase todos os dias, com direito a pipoca.

Não tivemos mais nenhum grande problema.

Dia 13 de outubro, foi aniversario da minha avó Eliza, e não pense você que o balanço a intimidou na cozinha. Ela fez sua famosa torta. É para poucos comemorar o aniversário no meio do Oceano Índico.

No cabo D’Ambre, já Madagascar as rajadas chegaram a 41,9 nós. O Kanaloa levou bastante agua, mas passamos muito bem o cabo. Quando estávamos chegando em Nosy Be os ventos mudaram e desapareceram novamente, como esperado, pois ficamos atrás de terra, a sotavento.
Foram 32 dias e meio de navegação. Que nunca esquecerei. E ficaria mais 30 tranquilamente.

Agora estamos em Madagascar mas logo partiremos para Africa do Sul, onde esperaremos a próxima estação para cruzar o Oceano Atlântico e voltar onde tudo começou.







quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Terminamos os trabalhos!

Olá, estive ausente algum tempo por estarmos trabalhando muito.

Como disse na última postagem, fomos para o seco, no estaleiro, para pintá lo.

Não é somente pintar e pronto, exige um trabalho bem grande, que consiste em primeiramente a raspagem da tinta antiga.

Muitos velejadores e profissionais da área utilizam produtos químicos e lixadeira, nós na Nova Zelandia descobrimos um equipamento maravilhoso para tal serviço.

O “scraper”, apelidado por nós, carinhosamente de raspador. Com o movimento e a inclinação certa é um ótimo aliado. Raspamos durante 6 dias.

(No final deixarei uma foto)

Logo após rasparmos os 50 pés (15 metros) do barco todo, contando que são dois bordos, uma grande quilha corrida, “o apoio do leme – “skeg” e leme. Tudo mesmo, parece pouco, mas nas fotos vocês terão uma ideia melhor.

Assim vamos à segunda parte, que consiste em lavar com água e passar tiner (“thinner”) e depois a pintura do primer a base de epóxi (mastic), que faz a ligação entre a base e a tinta anticraca (antifouling).
Desta vez resolvemos repintar as linhas d’agua, que são na cor azul escura. Para pintá las retas nós utilizamos fitas crepe que colamos de popa à proa. Dá um pequeno trabalho, pois são duas linhas, e olha que o Kanaloa já teve três.

Assim feita a linha d’agua com duas demãos, passamos finalmente, a anticraca no casco. Só tinha na cor vermelha, mas que eu acho que caiu muito bem para o Kanaloa.

Assim passamos tinner nos lugares onde vamos pintar, lembrando que não adianta passar antes e só no dia seguinte pintar, o tinner serve para retirar as impurezas que estão no casco.

Esperamos um dia e pintamos a segunda demão. Nós utilizamos a tinta Jotum 90.

E você pensa que acabou? Ainda temos que lavar todo o barco, e os 13 apoios que estão segurando o Kanaloa? O Sealift levantou o barco e ficamos uma noite em cima para raspar e pintar essas partes. Uma das demãos foi a uma da manhã.

No dia seguinte fomos para água.

Nesse tempo que ficamos no seco, aproveitamos para levar a corrente e a âncora para galvanizar, pois a última galvanização fora em Fiji. Levamos também correntes e âncoras de um barco australiano e de um outro inglês. Dividimos as despesas. Ficamos muito contentes com o resultado, e aproveitamos para passear de Hilux um pouco já que o local de galvanização ficava a 300 quilômetros de Lumut. 

Kanaloa na água, hora de fazermos compras, já que o tempo certo para nossa próxima navegada está chegando. Nas compras nós estocamos tudo, e o quê mais nos auxiliam são as latas. Por aqui chegamos até a encontrar lula e mexilhão em lata, com e sem pimenta!

Ficamos por aqui, e logo faremos novo contato, contando mais novidades.


Bons Ventos, Tripulante Kanaloa.

                       
           
                               Kanaloa sem a tinta antiga!
                                   




O nosso querido "Raspador"


Já com o "primer" e fazendo a segunda demão da linha d'agua


Mistrurando a tinta

Primeira demão da AntiCraca



Começando os trabalhos nos apoios


Raspando os apoios





Kanaloa finalmente pronto!


Kanaloa indo para à agua!


























terça-feira, 5 de julho de 2016

Kanaloa em terra!

Nesta semana fizemos uma travessia de 18 horas. Zarpamos de Penang logo após o almoço, e iniciamos os turnos apenas às 22:00, o suficiente para que todos descansassem um pouco.

Foi uma navegada com muitos barcos pesqueiros, principalmente. Tivemos que ficar atentos, durante o tempo todo, fazendo constantes ziguezagues até o estaleiro em Lumut.

Pretendemos ficar por aqui 20 dias. Como são dias “marítimos”, isto é mais ou menos 1,852 vezes isso, portanto: 37 dias. Essa é a diferença entre o desejo e a realidade.

Às dez e meia iniciamos a subida. Diferentemente do usual Travel Lift que percorre sobre uma calha guia e que utiliza cintas para suspender o barco e depois transportá-lo, o sistema aqui é com o Sealift. A máquina motorizada entra na água como as conhecidas carretas, encaixa-se no fundo do barco, suspende um pouco e sobe pela rampa carregando-o até o local de trabalho.

A movimentação da máquina é conduzida por um operador que caminha próximo com um controle remoto.

A tarde toda foi gasta com a instalação dos apoios que são presos ao solo com pitões e ligados aos pares com uma cinta. Foram utilizados onze apoios. Tudo muito seguro. Gostamos.

Então amanhã começaremos.

Vamos retirar a tinta antiga, que foi posta em junho de 2015. Na Nova Zelândia, porém, não tinha a tinta com o grau que gostaríamos, então não durou tanto. Era um grau 30 e queríamos a de 90. Após apenas oito meses o casco estava dando muito trabalho devido ao desgaste da tinta aplicada. De quinze em quinze dias meu avô tinha que mergulhar e limpar tudo. Chegando na Malásia compramos um compressor de mergulho, o que foi um grande alivio. Instalamos quatro filtros nele e foi um investimento que valeu! Por que, quem tem barco sabe como é trabalhoso e cansativo limpar o casco todo (hélice, leme, skeg, quilha, ânodos, saídas e entradas d’água) com apenas o fôlego num barco de 50 pés (15m).

Agora que estamos no seco, é até incomodo para nós. Estamos acostumados com o balanço do mar, e até ficar atracado é uma sensação diferente.

Então vamos começar os trabalhos, que ainda haverá muita coisa pela frente.


Temos que deixar o Kanaloa pronto para as travessias que ainda virão.

A seguir fotos da Malásia e da Nova Zelândia.

Bons ventos, Jacqueline, Tripulante Kanaloa.
  
                                         Travel Lift na Nova Zelândia
                                   

                                          Sistema utiliza cintas!


SeaLift


SeaLift


                                                                SeaLift

O operador:


Kanaloa em terra:


SeaLift:


Deu um friozinho na barriga:


O controle do SeaLift


O operador por trás da máquina:


SeaLift:
                                                       
                                                                Kanaloa com apois em terra:

                                                         Kanaloa pronto para começar os trabalhos: