quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Subiram duas pessoas do resgate no Kanaloa!

Tínhamos uma janela grande que daria para: saindo de Mossel Bay, Oceano Índico chegar a Cape Town, Oceano Atlântico.

Durante a travessia os ventos começaram a mudar e a janela a se fechar.
Assim, mudamos nossa rota para Simon's Town, cerca de 65 milhas antes.
Algumas milhas da cidade, observamos que o céu estava totalmente encoberto, e as ondas e ventos aumentando.

Ao cair da noite foi tudo piorando e o nosso medidor de vento não abaixava de 40 nós.

Começamos a ficar preocupados. Chegar num porto que não conhecemos, à noite, com tempo bom já é bem difícil. Imagine chegar com tempo ruim.

O veleiro surfava nas ondas que não eram muito altas, mas provocava uma trajetória mais ou menos sinuosa. Próximo a nós seguia um veleiro inglês e, assim passamos juntos a um farolete onde as ondas arrebentavam muito e tinha que ser deixado numa boa distância. Parecia uma regata: de olho no espaço até o farolete e no veleiro próximo.

Meu avô preferiu ficar no leme durante umas seis ou oito horas direto.

Logo vimos através de nosso AIS que o barco dos nossos amigos espanhóis já se encontrava na marina.

O inglês que estava atrás de nós havia feito contato com RESCUE (resgate) para o auxiliar na entrada da marina.

Chamamos nossos amigos espanhóis no rádio para nos auxiliarem na chegada e eles não responderam. Achamos que a coisa não deveria estar tão boa por lá porque em seguida, ainda via AIS, observamos que ele entrara e saíra da marina.  Posteriormente soubemos que foi por não conseguir manobrar na primeira tentativa porque o vento por lá chegava a 60 nós.

O vento já havia chegado aos 49.8 nós, para nós, e um quarto veleiro - um veleiro local - que estava nesse momento encerrando sua volta ao mundo chegou a ser levado umas duas milhas em direção as pedras, retornando somente quando o vento “sossegou” um pouco entre 33 e 36 nós.


O mar estava alto e ventava muito, todos nós estávamos nervosos com a proximidade de terra, com muito vento e como evitar um “strike” dentro da marina.

Eu perguntei, via rádio, se eles podiam nos dar auxilio, eles logo responderam que NÃO, e que eu deveria entrar em contato com o RESCUE no canal 71.

Num ato rápido, sem eu consultar o capitão, eu chamei o RESCUE e pedi auxilio para entrar na marina, já que eles estavam ajudando os outros 3 veleiros.

Via rádio, eles pegaram todos os dados do nosso barco, mas eu não conseguia entender 100%, devido ao barulho do vento; foi um pouco complicado.

Meu avô continuou no leme seguindo a rota como podia, pois, o barco chacoalhava muito.

Em um momento meu avô, no AIS, viu dois barcos muito próximos, com o nome Rescue. Pediu-me para confirmar visualmente. Por bombordo, quando coloquei a cabeça para fora, uma onda me lavou por inteira, eu fiquei muito nervosa, literalmente queria rir e chorar. Mas me segurei, afinal não queria ser mais uma preocupação.

Era uma lancha do RESCUE.  Quando olhei para o lado, duas pessoas estavam em cima do barco, daquele tipo que a gente só vê em filme, vestidos de vermelho com roupa de mergulho e capacetes; minha avó disse que eles pediram autorização para subir, e num pulo já estavam no convés.

Eles pediram para abrir toda a capota do barco, e já foram atrás das defensas e cabos - eles eram muito rápidos.

Como eram do local, logo começaram a indicar os lugares que deveríamos ir para entrar na marina.

Demos dois giros completos antes de entrar, para eles arrumarem tudo.

Meu avô no timão e eu e minha avó só observando. Não tinha o que fazer, eles faziam tudo. Era como ter dois práticos de cais a bordo, com o diferencial de estar ventando 50 nós.

Logo meu avô conseguiu entrar na marina, ficamos em parte aliviados, mas ainda tinha que seguir até o pequeno espaço do flutuante e amarrar o barco.

Quando olhamos para o flutuante havia dez pessoas prontas para pegar os cabos e ajudar no que fosse preciso. O Rescue já havia convocado o pessoal. Eram 5 velejadores estrangeiros e 5 locais – Eram 22:40 horas.

O veleiro foi “caranguejando”; isto é: seguindo numa direção, mas com a proa noutra, encaixando certinho na vaga.


Depois de uns quinze minutos para amarrar o barco: com dez pessoas no flutuante, dois homens do RESCUE, eu e meus avós e mais uma lancha com condutor e uma marinheira empurrando nosso barco contra o cais, conseguimos atracar.

Ficamos amarrados com dez cabos em diferentes posições e inúmeras defensas. Nosso barco não cabia por inteiro, o que fez os cabos fazerem baru fortes a noite toda.

Enfim chegamos!!!!

Fomos cumprimentar os rapazes do resgate que nos ajudaram, e na minha vez eu pedi uma foto (ver foto).

Estávamos ainda tensos, e sem acreditar que não havia acontecido nenhum arranhão. Realmente essas pessoas são verdadeiros anjos, pois em todos os momentos nos passaram calma, tranquilidade e segurança.

Aquecidos e satisfeitos, ligamos para a nossa família.

Minha mãe tinha me mandado diversas mensagens querendo meu “waypoint”. Demos risada, pois não tinha condição de nada naquelas horas que acabaram de se passar.

Eu tirei fotos e filmei pouco antes do mar estar um verdadeiro sufoco.

Minha iniciativa valeu 2 estrelinhas e meia, que meu avô arredondou para 3 estrelinhas. Dez estrelinhas dão direito à famosa torta de frango com palmito feita por minha avó.
Não foi bem um resgate, mas a assistência valeu e muito.



                                                 Nossos anjos, Josh e Dean!


                                             Por do sol com essa nuvem gigantesca!



                                               Essa nuvem foi escurecendo de uma tal maneira, que começamos a observar melhor ela por bombordo!


E aqui um video com alguns momentos da travessia.




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3 comentários:

  1. Acredite!! que após ler seu relato,fiquei com um gosto amargo na boca,que perrengue Jacqueline .bons ventos para todos. Muito legal você ter divulgado a fotos dos anjos,realmente não é fácil para ele não,tem que ter muita coragem.

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  2. Que aventura menina, nada como haver infraestrutura de salva-mar em um pais sério... BVs e parabéns pela travessia emocionante...

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